O Patriota, épico de guerra dirigido por Roland Emmerich, estreou em 2000 como um dos maiores investimentos da Columbia Pictures daquele ano, arrecadando mais de 215 milhões de dólares mundialmente e recebendo indicações ao Oscar por Direção de Arte, Figurino e Trilha Sonora Original. Ao público brasileiro, o longa permanece como referência obrigatória quando se fala em retrato hollywoodiano da independência norte-americana, mas ganha camada extra de interesse pelo encontro de gerações: Mel Gibson, astro consolidado desde os anos 1980, dividia a tela com Heath Ledger, jovem de 20 anos recém-saído do sucesso de 10 Coisas que Eu Odeio em Você. A química entre os dois, que interpretam pai e filho dispostos a lutar contra o Império Britânico, transformou-se em notícia global porque Ledger repetiu em diversas entrevistas da época que Gibson era seu “herói” desde a infância na Austrália.

Ambientado na Colônia da Carolina do Sul entre 1776 e 1781, o roteiro de Robert Rodat segue o estrutural clássico do herói relutante: Benjamin Martin, ex-combatente com passado brutal, deseja apenas cultivar sua plantação e criar os sete filhos. A fotografia de Caleb Deschanel alterna tons pastosos nos campos de milho com o verde-escuro das matas onde se escondem milícias, criando paleta que remete aos quadros rurais do século XVIII. Roland Emmerich, mais conhecido por blockbusters de catástrofe como Independence Day, abre mão de explosões monumentais para priorizar o embate psicológico do protagonista entre dever cívico e medo de perder a família. O resultado é um épico que equilibra cenas de batalha com ênfase nas implicações morais da guerra, como a utilização de táticas de guerrilha e o dilema de envolver crianças no conflito. O corte de edição mantém o ritmo próximo de três atos, mas inclui interlúdios que mostram o cotidiano colonial — escravagismo, rigor religioso e comércio de chá — sem os quais o espectador perderia a noção de por que a insurreição se tornou inevitável.

No plano dos atores, Mel Gibson imprime ao patriarca uma compostura que lembra seu William Wallace em Braveheart, porém com resignação em vez de fervor ideológico: seus olhares cansados e voz retraída sugerem que Benjamin já conhece o custo de se pegar em armas. Heath Ledger, por sua vez, constroi Gabriel como o típico adolescente iludido pela retórica de liberdade, crescendo à medida que testemunha atrocidades. Em cenas de confronto, o contraste de temperamento entre Gibson e Ledger funciona como motor dramático: a prudência do pai freia o ímpeto do filho, enquanto a coragem do filho devolve ao pai o senso de propósito. O elenco de apoio reúne nomes como Joely Richardson, que interpreta a cunhada que mantém a casa de Benjamin, e Jason Isaacs, cuirás-vestido coronel inglês Tavington representa a crueldade da Coroa sem cair em caricatura. A trilha sonora composta por John Williams alterna temas militares com flautas e violões, reforçando a ideia de que, antes de campo de batalha, a América era paisagem sonora de origem camponesa.

Após o fim das filmagens, Ledger revelou que o convívio com Gibson o ensinou a “trabalhar sem poses” e a “respeitar a equipe técnica como parte do processo criativo”. Curiosamente, O Patriota antecipa temas que marcarão a breve carreira do ator: a tensão entre ímpeto juvenil e responsabilidade, a suspeita de que heróis carregam feridas inconfessáveis e a ideia de que toda escolha moral gera consequências imediatas. Oito anos depois da estreia do longa, Heath Ledger morreu em consequência de intoxicação por medicamentos prescritos, pouco antes de seu icônico Coringa em O Cavaleiro das Trevas o consagrar postumamente. Mel Gibson, já então afastado dos holofotes por polêmicas pessoais, afirmou ao The Guardian que deveria “ter ligado para ele”, sugerindo que percebia sinais de um desequilíbrio que não soube nomear na época. Desse modo, O Patriota funciona hoje como documento duplo: registro fílmico da luta pela independência dos EUA e retrato de encontro entre ídolos e discípulos que, por um breve instante, compartilharam o mesmo campo de batalha, literal e existencial.

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